sábado, 14 de janeiro de 2012

Presentes de Deus


Maurilio Tadeu de Campos

Tarde de domingo, ensolarada. Estava no Deck do Pescador observando o sol estender o seu rastro dourado sobre o mar, na entrada do estuário. Essa cena levou-me à fantasia de um caminhar imaginário naquele tapete estendido pelo astro rei que se despedia para retornar, admirável, no novo amanhecer. Nos rostos das pessoas percebi o prazer que a natureza proporcionava, fazendo todos se irmanarem, cúmplices da magia astral que conduzia ao êxtase completo, à paz, à felicidade. Barcos de diversos tipos e tamanhos cortavam o mar e seguiam pela esteira dourada, num vaivém frenético de quem quer ir ou chegar por esse mar tão nosso e tão próprio da nossa cidade, limite da orla sem limites para o Atlântico.

Em Santos, nos lugares em que costumamos frequentar, acabamos por encontrar pessoas conhecidas e, naturalmente, os laços de amizade vão sendo fortalecidos, mesmo que, inicialmente, nem saibamos direito as identidades dos rostos já familiares e, quase sempre sorridentes. Cada rosto passa a ter um toque conhecido e quando ficamos juntos nos sentimos bem. O pertencimento é o traço de união; estamos na mesma cidade, que escolhemos para nascer e viver, essa Santos marítima que mistura o trabalho e o lazer e nos faz muito bem. E nessas tardes quentes e ensolaradas, reencontrar amigos é inevitável. A busca pela brisa que suaviza o calor vem reger esses instantes agradáveis. Respiramos profundamente e absorvemos a maresia que está impregnada na atmosfera benfazeja; é bom desfrutar desse ar, que nos traz a energia necessária para que enfrentemos bem os dias seguintes. Nos encontros, trocamos sorrisos afetuosos, apertos de mãos, cumprimentos, atos comuns aos que se querem bem.

O verão nos oferece dias mais longos, tardes quase intermináveis em que o poente proporcionado pelo Sol é a constatação de que a porta do dia vai se fechando vagarosamente, conduzindo nossos pensamentos aos sonhos e às coisas boas realizadas ao longo da nossa vida. E cada vez que a porta de um novo dia se abre, nos sentimos preparados para continuar a nossa trajetória de cidadãos do mundo, impulsionados para novos momentos a experimentar.

E eu, ali, naquele deck, extasiado, em meio a um emaranhado de varas de pescar e de semblantes ansiosos vi surgir à minha frente uma suave nave branca, vagarosa, imponente e bela. Braços passaram a se agitar, para as despedidas. Do navio muitos acenaram e nós, ali, retribuímos, como se a desejar boa viagem. E o tapete dourado produzido pelo sol é rasgado pela proa do transatlântico que passa imperante rumo ao oceano. Um apito grave nos acautela e parece nos dizer: “Até breve, vou até ali e já volto”. Logo depois, outros navios, tão majestosos quanto o primeiro, também desfilam pela passarela dourada, espargindo esperanças e conduzindo sonhos, misturados ao lazer e ao entretenimento.

Voltei para casa com as imagens daquele fim de tarde de domingo, tão parecido com tantos outros, mas, ao mesmo tempo diferente. Os domingos jamais serão todos iguais, pois cada um nos traz a sua especial e doce individualidade, que guardamos em nossa memória com alegria e emoção. Em pensamento agradeci a Deus por ter assistido a uma sequência de performances tão singulares, presentes de valor incalculável, oferecidos de graça, numa mistura do progresso do homem e, sobretudo, da grandiosa obra de Deus.

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