Quando
jovem, sonhava em possuir uma máquina de escrever. Custei a ter esse tão
sonhado instrumento de escrita e, quando consegui comprar, precisei escolher a
mais barata, que cabia no meu orçamento. Era uma máquina portátil, bem compacta.
O tempo passou e eu adquiri outra, maior, com mais recursos e, assim, fui
construindo meus textos e, com mais entusiasmo, passei a produzir jornais literários,
contando com a ajuda de um mimeógrafo para reproduzir os periódicos. Era o
máximo! Podia divulgar, assim, prosa e poesia de escritores locais e sofisticar
os saraus literários da ocasião.
O
tempo passou e, já nos anos noventa, comprei o meu primeiro microcomputador,
bem mais sofisticado do que a máquina de escrever, que possibilitou ampliar a minha
capacidade para produzir e reproduzir trabalhos com excepcional definição.
Conseguia resultados bem melhores do que aqueles antes obtidos. Meus contatos
com as pessoas passaram a ser mais ágeis. Antes usava cartas, cartões de
mensagens, telegramas e outros meios de comunicação mais tradicionais; agora,
os e-mails e as comunicações nas redes sociais permitiam rapidez nos
relacionamentos, o que me fez abandonar de vez aquela minha aquisição de jovem
ansioso pela sua primeira máquina de escrever. O computador passou a estar diante
de mim, um aparelho habitual mais preciso, complexo e fascinante.
A
tecnologia avançou e possibilitou a todos possuir instrumentos de comunicação
ainda mais sofisticados. O telefone celular (o telemóvel, como dizem os
portugueses), quando surgiu, era analógico, servindo apenas para contatos
telefônicos; hoje possui múltiplas funções e, uma vez habilitado pode ser
utilizado de modo a permitir aos seus usuários comunicação instantânea; antes
artigo de luxo, hoje usado por muitas pessoas desde a mais tenra idade. Os tablets ampliaram e facilitaram ainda
mais o convívio virtual nessa nossa “aldeia global”.
Hoje
vejo crianças muito pequenas manipulando instrumentos de comunicação com uma
facilidade que eu ainda não possuo. Os pequenos, ainda não alfabetizados,
apoderaram-se da tecnologia com uma precisão espantosa. É habitual encontrar
várias pessoas com seus aparelhos eletrônicos num quase frisson, “antenadas” com o mundo. Percebo que virou insignificante
a comunicação mais pessoal e, quando acontece, é quase um resvalar de instantes
em que os contatos virtuais perdem-se, em decorrência de supostas quedas de
sinal.
Voltei no tempo e percebi que, embora
tivéssemos antes menos tecnologia, os contatos pessoais e calorosos nos
possibilitavam a convivência mais saudável porque necessitávamos estar mais
juntos para por em prática a real comunicação. Hoje as pessoas passaram a
adotar comportamentos individualistas porque a sofisticação dos equipamentos parece
querer a isso exigir. Eu diria até que os “amigos” acabam por assumir a
aparência dos nossos aparelhos, excessivamente virtuais, e que é fácil “desligá-los”
quando não estamos mais interessados neles; é só um toque ou um bloqueio e a
situação fica “resolvida”. Entendo que, pelo que me parece, será difícil voltar
ao tempo em que compartilhávamos mais o “olho no olho”, a “conversa ao pé do
fogo” e conseguíamos ver as reações, as lágrimas saltando dos olhos e o sorriso
nos lábios, nos muitos momentos em que a emoção possibilitava a prática do
verdadeiro bem querer.
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