Companheira
de Viagem
Maurilio Tadeu de Campos
Saímos juntos para a viagem dos nossos sonhos, dispostos
a aproveitar ao máximo os dias de descanso e de lazer no continente europeu. No
avião, ficamos em lugares separados. Porém, ao desembarcar, procurei-a
inutilmente. Indaguei em vários lugares e ninguém soube me informar sobre o seu
paradeiro.
O tempo passava e eu ia ficando mais
preocupado. Em cada hotel eu averiguava se havia alguma notícia, mas nenhuma
informação positiva me era fornecida. Ela teria me abandonado? Estaria com
outra pessoa? Teria tomado outro rumo sem me avisar? A ausência dela diminuiu a
minha satisfação, o meu prazer. Cheguei a pensar em sequestro, mas nenhuma
evidência sugeriria tal hipótese. Fiz novos amigos nos lugares em que visitei
e, com eles, conheci os mais diversos pontos turísticos. Tudo parecia novidade
e eu carecia de distração para não pensar mais na minha companheira de viagem
que pensei ser inseparável, mas que desaparecera. Tudo o que queria era estar
com ela, usufruir da sua presença. Outras companhias surgiram, mas nenhuma
delas me atraia. Eram belas, muitas delas alegres, outras mais sóbrias. Algumas
até pareciam ser jovens demais para mim. Porém, meu interesse era reencontrar a
companheira sumida.
Em Paris, fiquei sabendo que ela estaria
me aguardando em Londres, no hotel. Fiquei feliz. Iria revê-la dois dias
depois. Procurei aproveitar os passeios e quando tomei o trem de Paris a
Londres, parecia que os ponteiros do relógio moviam-se mais devagar do que de
costume. Finalmente, a chegada à capital inglesa. Lá, o nosso receptivo nos
conduziu até o hotel. Entrei apressado e, sem demora, dirigi-me à recepção.
Perguntei por ela. Um dos recepcionistas, educadamente, pediu que eu aguardasse.
Minutos depois retornou, dizendo que ela não estava no hotel, sequer em Londres. Comprometeu-se ,
no entanto, a apurar novas informações. A tristeza novamente tomou conta de
mim. Fui para o meu quarto e lá fiquei, deitado na cama, no escuro, frustrado. Qual
teria sido o seu paradeiro? Por que haviam garantido que ela estava em Londres?
Na manhã seguinte fui informado que
ela embarcara num vôo de retorno ao Brasil, saindo de Madrid. Por mais que eu
tentasse, não conseguia compreender aquela separação.
Retornei ao Brasil. Quase um mês depois,
bem cedinho, a campainha tocou. Abri a porta e lá estava ela, na companhia de
um jovem rapaz muito alinhado. Teria ela que reaparecer depois de tanto tempo e,
ainda por cima, acompanhada? O rapaz apresentou-se como funcionário da empresa
aérea na qual havíamos viajado.
- Senhor, - disse ele – tive a missão
de trazer a sua mala, extraviada durante a sua recente viagem à Europa. Em nome
da nossa companhia peço desculpas pelos eventuais transtornos.
Olhei-a com estranheza. Depois de mais
de um mês ela me pareceu diferente, quase uma estranha. Agradeci ao rapaz. Assinei
uns papéis e levei minha ex-companheira de viagem para dentro. Quem sabe
poderemos, num futuro próximo, fazer uma nova viagem e, então, nada irá nos
separar.
Muito bom e muito divertido este texto. Já tinha lido na "Tribuna". Gostei.
ResponderExcluirMaurílio,
ResponderExcluirAs duas companheiras que me apresentou foram sensacionais,
foi um presente de Deus ler sobre a nossa Estrelinha maior, Elis
e saber mais sobre o Ars Viva... Os Atos Solitários muitas vezes nos
fazem refletir mais que qualquer outro tipo de ato, fica sempre a pergunta
Que mais eu poderia ter feito e eu concordo com você quando escreve
“Aquele meu gesto quase humanitário foi um alerta para que eu compreendesse
que estava muito distante da bondade ainda não colocada em prática por puro
comodismo e pela ausência de uma efetiva atitude cidadã de amor e de respeito
ao meu semelhante.”
Hoje amanheci lendo seu blog , voltei para ler alguns que já tinha lido.
Boa semana.
Kedma