domingo, 24 de julho de 2011

Ars Viva, 50 Anos de Boa Música

Em 29 de abril de 1961 um grupo de artistas e intelectuais fez surgir o Madrigal Ars Viva, com a finalidade de divulgar a música menos convencional e seus autores a partir de um movimento nada ortodoxo, que propunha novas maneiras de tratar o som, a palavra, a luz, a composição quase em decomposição proposital, também reconstruída. Tomei conhecimento do Ars Viva nos anos setenta, por intermédio do professor Roberto Martins, também compositor e integrante do coral. A postura do jovem mestre, progressista, bem fundamentada, deixara-me impressionado. Fiquei curioso e fui ver o coral se apresentar. Achei tudo muito estranho. A dissonância invadiu meus ouvidos e não combinou com a minha pouca experiência musical da ocasião, nada erudita. Eu gostava de música, mas aquilo me parecia meio complicado de digerir tão facilmente. Um dia Martins emprestou-me um LP do Madrigal. Em casa, ouvindo o disco, tentei compreender a razão de se fazer algo tão incrivelmente diferente, provocativo e agressivo ao meu incauto ouvido. Em 1974, Roberto Martins substituiu Klaus Dieter Wolff e passou a reger o grupo. Eu, que já tinha interesse em participar de um coral, entendia, no entanto, que não possuía a qualificação necessária para fazer parte do Ars Viva, muito complexo, no meu ponto de vista da época. No início dos anos oitenta, li uma entrevista do Maestro Martins e, num certo trecho, ele pedia para que as pessoas que gostassem de cantar e que fossem afinadas procurassem a sede do Madrigal. Motivado pela entrevista, num sábado do mês de setembro de 1982, fui até a Rua Barão de Paranapiacaba e, na casa de número 31, antiga sede do Ars Viva, ousei fazer parte do Madrigal. Orientaram-me a aguardar o maestro. Ele chegou e eu passei por um teste, sendo indicado a integrar o naipe de tenores. Naquele mesmo dia participei do primeiro ensaio. Retornei para casa com algumas partituras e, nos sábados seguintes, estava integrado aos ensaios do coral. Naquele tempo era preciso passar por uma experiência de seis meses para, depois, poder fazer parte do grupo em um concerto. E a minha estréia deu-se no dia 29 de abril de 1983, na Igreja de São Benedito. Há quase 29 anos pertenço ao Madrigal Ars Viva, um coral que me proporcionou mais do que a oportunidade de cantar. Tornou-se uma escola e fez de mim um ouvinte mais apurado, mais crítico, mais interessado em melhor compreender as diversas vertentes da música, familiarizado mais e mais com novos e já consagrados compositores. O Madrigal está incorporado a mim e, certamente, eu a ele. Pertencemos-nos e o nosso relacionamento faz muito bem a ambos, creio, cantor e coral, numa plena simbiose. Hoje, quando festejamos os cinquenta anos de criação do Ars Viva posso ter o privilégio de comemorar, com os meus companheiros desse espetacular grupo coral, meio século de uma existência coesa, cercada de bons e agradáveis momentos e de inúmeras e gratificantes recordações. Um dia, quando não mais puder fazer parte do Ars Viva, espero que outros cantores o estejam integrando. Raro é existir, num país em que a cultura ainda está relegada a plano secundário, um grupo coral como o Madrigal Ars Viva, diferente dos demais, único, digno representante da música coral de todas as tendências e épocas, laboratório permanente de recriação da música antiga e de criação da música nova. O Ars Viva tem revelado, ao longo de todos esses anos, a obra de novos compositores e divulgado, incessantemente, os já consagrados. Estou muito feliz por fazer parte desse grupo coral. Parabéns Ars Viva!

Um comentário:

  1. Esther Ribeiro Gomes24 de julho de 2011 às 16:57

    E parabéns pra você, Maurílio, por fazer parte desse grupo musical maravilhoso! Sucesso,sempre! Beijão, Esther

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